Por um Capitalismo Para os Pobres

É inegável que o surgimento do capitalismo trouxe inúmeros benefícios à sociedade. Não falo isso por meras paixões ideológicas, como os adoradores daquela religião chamada marxismo fazem. Digo isso com base em números, estatísticas e comprovações. Hoje vamos falar um pouco de história, certo?

Esqueçamos por alguns minutos as facilidades promovidas pela vida moderna e as grandes cidades (essas contempladas inimigas dos reacionários estatistas) e lembremos um pouco de como era a vida séculos atrás. Na verdade, não precisamos ir tão longe à história humana, afinal, somos apenas a terceira ou quarta geração que sabe como é ir num supermercado e encontrar comida com relativa facilidade. Mas vamos supor que pegamos uma máquina do tempo para dar aquela volta marota ao redor do mundo em 1411: veríamos, por exemplo, uma Europa Ocidental (lar dos opressores) completamente arrasada, composta por Estados miseráveis assolados pela peste, por péssimas condições sanitárias e guerras intermináveis. Se o filho de alguém passasse do primeiro ano de vida, já poderia ser considerado um abençoado, e mais raro ainda eram aqueles que conseguiam chegar aos 30 anos de idade.

Os dois bros da imagem concordam que era muito fácil viver em 1411 quando ainda o mundo não conhecia os ideais de liberdade!

Em sua obra “Civilização”, o historiador Niall Fergunson nos presenteia com uma narrativa interessante e bastante contundente sobre a história do mundo moderno e o que deu essa guinada na qualidade de vida da população como um todo. De acordo com ele, alguns “aplicativos” como a competição, o direito de propriedade e o consumo, trouxeram desenvolvimento ao mundo de forma espetacular. Inclusive, Marx, ironicamente, foi um dos primeiros a reconhecer em suas obras, que remontando ao passado, a evolução do capitalismo privado com o mercado livre foi a condição prévia da evolução de todas as nossas liberdades democráticas. Infelizmente, nunca ocorreu a este “grande” filósofo, deduzir que se assim acontecia, tais liberdades poderiam desvanecer com o fim do mercado livre.

Afinal, como ocorreu o surgimento dessas liberdades que guiam o mundo moderno e estão no centro dos debates atuais? Bom, primeiramente, a idéia de se ter uma prosperidade material em continuo avanço é recente, e na maior parte do tempo apenas as elites aristocráticas e nobres absolutistas detinham poderes políticos e econômicos. A primeira ruptura com essa lógica começa com as primeiras sociedades comerciais que surgiram na Espanha e Norte da Itália. Mas o principal de todos os acontecimentos, sem duvida alguma, foram as duas principais revoluções burguesas, a Revolução Inglesa e a Revolução Francesa, que inovaram o cenário mundial em todos os aspectos: econômico, social e cultural.

Os ingleses trouxeram a base da Modernidade através da mudança do capitalismo mercantil para o capitalismo social que mais tarde daria origem ao capitalismo financeiro que vivemos atualmente. As ramificações burguesas, completamente interessadas em obter mais lucros e liberdade de produção de comércio, influenciaram totalmente na queda do regime monárquico absolutista e na aquisição de novos direitos civis e populares. Além de permitirem que um indivíduo comum – não nobre – pudesse enriquecer, e até possivelmente adquirir poder político. Algo antes impensável!

A Inglaterra dobrou sua população no século após a Revolução Industrial – mostrando evidentemente que tal revolução expandiu o padrão de vida das pessoas comuns. Os primeiros empreendedores industriais sofriam forte oposição das elites já estabelecidas, que não queriam concorrência e desejavam a manutenção do status quo. O único apoio com os quais eles podiam contar era dos economistas liberais clássicos, que perceberam que tais iniciativas individuais poderiam trazer liberdade e prosperidade à população. E de fato trouxeram, afinal, o que estava sendo produzido nas primeiras fábricas inglesas? Não eram produtos para a nobreza, mas vestuários e equipamentos utilizados para as pessoas melhorarem sua vida diária. Pela primeira vez na história humana as pessoas tinham a possibilidade de adquirir riquezas e equipamentos com mais facilidade do que seus antepassados.

Quer desfazer a revolução industrial. Acabou de terminar um bem-sucedido tratamento para o câncer.

Ora, o que dizer da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, concebida logo após a Revolução Francesa? Tal documento definiu os direitos individuais e coletivos do homem (tomada a palavra na acepção de “ser humano”). Serviu de inspiração para as constituições francesas de 1848 e para a atual. Também foi base da Declaração Universal dos Direitos Humanos, promulgada pelas Nações Unidas.

Neste momento, analisando todas as conquistas do livre mercado e das ideias liberais, toco na ferida dos meus colegas mais extremados e pergunto, qual revolução de caráter socialista trouxe algo benéfico à humanidade? Qual revolução de caráter comunista não apresentou apenas o pior da humanidade, com massacres, genocídios, fome generalizada e o caos? Qual revolução de caráter coletivista trouxe algo tão benéfico para a sociedade que durou por anos ou foi copiado por outras sociedades no futuro? Qual revolução nacionalista expandiu a riqueza geral e melhorou a qualidade de vida das pessoas?

Infelizmente, aos reacionários, restam apenas críticas vazias e supérfluas à globalização, que com termos como “neoliberalismo”, “mundialização” ou “financeirização”, atacam as revolucionárias instituições, conquistas e direitos que foram obtidas com o advento do livre mercado. Fazem afirmações vis e irresponsáveis como “a globalização forçou um enriquecimento dos países ricos e trouxe empobrecimento aos países pobres”, raramente apresentando números que comprovem tais informações e quando o fazem são números incompletos e deslocados do contexto, com artifícios rasteiros para induzir o leitor a uma tese errônea, objetivando conservar uma velha ideologia comprovadamente ultrapassada e fracassada.

O professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília, Roberto Ellery, trouxe uma luz interessante para asseguradamente afirmar que a riqueza mundial somente CRESCEU após o início da globalização. De acordo com sua pesquisa, basta observarmos que em 1960 a renda média dos países era de 4095, em 2010 era de 13.309, ou seja, o mundo ficou mais de três vezes mais rico nestes cinqüenta anos. Analisando cada caso em especial, a renda média dos países pobres em 1960 cresceu 230% entre 1960 e 2010. A renda média dos países ricos no mesmo período cresceu apenas 116% no mesmo período. Dito de outra forma: entre 1960 e 2010 os países pobres cresceram, em média, uma vez e meio mais do que os países ricos. Ou seja, ao contrário do que dizem por aí, os países ricos foram os que menos cresceram ao longo do tempo[1].

Ellery, em sua honestidade intelectual (algo raro em marxistas) reconheceu que países pobres terem crescido mais que países ricos não implica necessariamente em aumento da renda dos mais pobres. Por isso, decidiu ir mais longe e analisou dados relativos à pobreza e para tornar ainda mais difícil pegou casos extremos de pobreza, usando como exemplo a África subsaariana, onde o número de miseráveis mais que dobrou entre 1981 e 2010. Há no país o dado alarmante de que eram 200 milhões de pessoas nesta situação em 1981 e em 2010 já passavam de 400 milhões. Se quisermos garantir uma análise e conclusão coerente, além deste dado, precisamos levar em conta se o aumento do número de miseráveis foi maior ou menor ao crescimento populacional. Tendo em mente tais informações, podemos perceber que a porcentagem de miseráveis na África subsaariana era 56,5% em 1981 e caiu para 48,5% em 2010. Curiosamente, na década de 1990, o auge do “neoliberalismo do mal”, começou o processo de queda na proporção de miseráveis, foram mais de dez pontos percentuais de queda entre 1993 e 2010[2]. Não apenas isso, entre esse período também caíram as proporções dos que vivem com menos de $2,50 por dia.

Apesar das enormes desigualdades ainda presentes nos dias atuais, presenciamos um progresso notável no mundo inteiro[3]. No final da II Guerra, a Coréia era apenas um país fornecedor de escravos para o Japão, hoje a parte que aderiu ao mercado é um país rico, enquanto a parte que não o aderiu, é um país pobre. Basta observar os milagres econômicos que ocorreram em países como Botsuana, China, Guiné-Equatorial, Hong Kong, Coréia do Sul, Malásia, Singapura, Taiwan, Tailândia, que nem eram países ricos em 1960. Na verdade, Botsuana, China e Guiné-Equatorial estavam entre os mais pobres à época.

Keynes não pensou em algo parecido?

Os verdadeiros desafios no Brasil são enfrentar as elites empresariais corporativistas que fazem de tudo para travar o desenvolvimento do país, em nome de interesses escusos. Fecham a economia através do controle estatal, pois assim garantirão margens de lucros abusivos, monopólio garantido pelo Estado e proteção contra a concorrência. Tais grupos, os verdadeiros inimigos da liberdade, atuam fortemente na formação de lobby político para evitar a ascensão do livre mercado, fazendo a produtividade do país cair e, com ela, os salários médios do trabalhador.

Os estatistas, sejam eles de esquerda ou direita, são influenciados por uma mídia e uma educação completamente antilibertária que é patrocinada e promovida por associações sindicais e grandes grupos empresariais que conservam e propagam ideologias que facilitarão a manutenção do status quo de uma elite intervencionista, mas que sempre diz estar preocupada com o “bem comum”, quando na verdade querem atender apenas seus próprios interesses. Através de seus discursos, fazem-nos acreditar que eles são os únicos lutando para melhorar o país e que tudo não passa de uma infantil luta de classes, onde a elite coxinha sofre de horrores e lamentações ao ver o pobre andando de avião. Pergunto: por que o rico ficaria “horrorizado” com pobres conseguindo mais dinheiro para pagarem por serviços que antes eram restritos a uma pequena faixa populacional? Os ricos estão vendendo estes serviços para os pobres, eles são os que mais ganham com isso.

Quem mais sofre com a propagação deste estatismo irresponsável? O cidadão comum. Que paga mais caro por tudo; que sofre com os gargalos de infraestrutura ocasionadas pela fuga de investimentos privados; que apanha com a imposição de altas cargas tributárias que tira todo seu salário; que é torturado com a fraca proteção aos direitos de propriedade e a incerteza jurídica causada por um sistema judicial lento e inchado que beneficia apenas os corporativistas, sindicatos e amigos do rei.

Aliás, diz-se que um conservador é aquele que deseja conservar algo, seja uma mentalidade política ou filosófica. O reacionário é aquele que resiste às mudanças. Novamente, pergunto: se os liberais são conservadores e reacionários como pregam os desonestos intelectuais, o que estamos buscando conservar? Mas não é a mentalidade keynesiana e anticapitalista que domina o meio acadêmico e as instituições deste país? E não são os marxistas que defendem o fim do livre-mercado? Não são os nacionalistas que acreditam que devemos fechar o mercado para evitar concorrências externas e valorizar as empresas internas? Nesse sentido, podemos concluir que os verdadeiros conservadores reacionários são os fantasiosos comunistas, socialistas e os nacionalistas, que estão com medo das novas ideias. Os verdadeiros reacionários pregam a manutenção de instituições e ideologias que representam seu poder sobre o povo oprimido: todos os Partidos brasileiros, O Estado inchado e burocrático, os órgãos estatais reguladores do mercado, as agências de cerceamento à liberdade de expressão e as péssimas políticas públicas.

Sabemos que a pior ditadura não é a que aprisiona o homem pela força, mas sim pela fraqueza, fazendo-o refém das próprias necessidades. Para isso, precisamos atuar com pragmatismo para aos poucos devolver poder e autonomia ao cidadão, reduzindo o domínio do Estado lenta e progressivamente. Da mesma forma como a liberdade é perdida um passo de cada vez, ela também será reconquistada da mesma forma.

Parafraseando o mítico Tyler Durden, nós somos os filhos de um país ridículo e sem história, sem propósito ou lugar. Não tivemos Grande Guerra, não tivemos Grande Depressão. Nossa grande guerra é a guerra espiritual, nossa grande depressão são nossas vidas. Fomos criados pelo MEC para acreditar que a solução seria um Estado interventor, com órgãos estatais reguladores que protegessem o cidadão e garantissem a distribuição de renda forçada. Mas não funciona assim. E estamos aos poucos aprendendo isso. E estamos muito, muito revoltados!

Já sabe qual é a primeira regra né?

[1] Dados fornecidos pela Pen World Table – https://pwt.sas.upenn.edu/php_site/pwt_index.php

[2] http://povertydata.worldbank.org/poverty/region/SSA

[3] 200 anos, 200 países, 4 minutos – https://www.youtube.com/watch?v=Qe9Lw_nlFQU

4 comentários em “Por um Capitalismo Para os Pobres”

    1. Oi, Marcelo. Vou marcar os pontos mais importantes para você, ok? Estes são os pontos principais, mas o artigo inteiro mostra como a conquista e a luta por direitos individuais começou na luta por liberdade econômica.

      “Em sua obra “Civilização”, o historiador Niall Fergunson nos presenteia com uma narrativa interessante e bastante contundente sobre a história do mundo moderno e o que deu essa guinada na qualidade de vida da população como um todo. De acordo com ele, alguns “aplicativos” como a competição, o direito de propriedade e o consumo, trouxeram desenvolvimento ao mundo de forma espetacular. Inclusive, Marx, ironicamente, foi um dos primeiros a reconhecer em suas obras, que remontando ao passado, a evolução do capitalismo privado com o mercado livre foi a condição prévia da evolução de todas as nossas liberdades democráticas. Infelizmente, nunca ocorreu a este “grande” filósofo, deduzir que se assim acontecia, tais liberdades poderiam desvanecer com o fim do mercado livre.”

      “Afinal, como ocorreu o surgimento dessas liberdades que guiam o mundo moderno e estão no centro dos debates atuais? Bom, primeiramente, a idéia de se ter uma prosperidade material em continuo avanço é recente, e na maior parte do tempo apenas as elites aristocráticas e nobres absolutistas detinham poderes políticos e econômicos.”

      “Os ingleses trouxeram a base da Modernidade através da mudança do capitalismo mercantil para o capitalismo social que mais tarde daria origem ao capitalismo financeiro que vivemos atualmente. As ramificações burguesas, completamente interessadas em obter mais lucros e liberdade de produção de comércio, influenciaram totalmente na queda do regime monárquico absolutista e na aquisição de novos direitos civis e populares. Além de permitirem que um indivíduo comum – não nobre – pudesse enriquecer, e até possivelmente adquirir poder político. Algo antes impensável!”

      Abraços.

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